sexta-feira, 27 de abril de 2012

FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO INFANTIL

RESUMO

Mesmo considerando a existência de prioridades para a educação no âmbito nacional - como a universalização da alfabetização - os especialistas são unânimes em apontar os benefícios de um cuidado pedagógico com as crianças antes das séries iniciais do Ensino Fundamental. O presente trabalho tem o objetivo de analisar algumas das tendências teóricas que têm norteado a formação e atuação dos professores, em Educação Infantil, descrevendo fatores e realizando reflexões sobre a atualidade desse nível de ensino, desenvolvendo um paralelo entre a reformulação da formação inicial e a importância da formação continuada. Aborda teorias pedagógicas que subsidiam a leitura analítico-interpretativa da prática docente nesse nível de ensino. Promove uma reflexão sobre a importância da análise e obtenção de conhecimento, credibilidade, o crescimento pessoal e o profissional, alertando para a valorização dos profissionais que trabalham na área da Educação Infantil, para que através do conhecimento referente ao trabalho docente (dos seus limites, dificuldades e possibilidades), possa haver o crescimento qualitativo nessa área da educação. Desta forma conclui-se que a formação continuada em serviço é de fundamental importância para a problematização e para a prática reflexiva dos docentes, os transformado em aprendizes, que buscam o desenvolvimento de potencialidades e de uma atuação profissional coerente com as diversas realidades.

INTRODUÇÃO

   Este estudo iniciou-se a partir do entusiasmo que nutrimos pela profissão, tendo como base experiências próprias de trabalho com crianças de zero a seis anos, e também, a análise da problemática referente à formação e prática pedagógica na Educação Infantil. A preocupação primordial deste estudo é incentivar uma análise crítica sobre a ação didático-pedagógica realizada pelo docente no exercício do magistério na Educação Infantil. Análise essa, construída com base em algumas das principais tendências pedagógicas que influenciaram e influenciam esse nível de ensino, tais como FREINET (apud CABRAL, 1978); FROEBEL (apud CABRAL, 1978); KAMII, 1985; MONTESSORI, 1965. Estes teóricos possuem em comum a preocupação em relação ao desenvolvimento do ato de observação por parte dos professores.
  É visível a necessidade de se desenvolver um processo de reflexão e definição relativo ao que seja o universo da Educação Infantil, a fim de subsidiar positivamente os cursos de formação destes profissionais, para uma prática futura caracterizada e fundamentada pedagogicamente no direcionamento de finalidades significativas M para o desenvolvimento e realização integral da criança. 
   Ressaltando que, uma das preocupações no momento, é preservar a especificidade da área, construindo uma identidade própria para a Educação Infantil. Considerados como fenômenos tipicamente urbanos, relacionados à inserção da mulher no mercado profissional, os espaços criados para a Educação Infantil possuem o mérito inegável de colocar a criança em contato com um ambiente socialmente constituído, que extrapola o nicho familiar. O atendimento educacional nesses espaços caracteriza-se pela necessidade urgente de melhor delineamento que revele sua importância pedagógica para o desenvolvimento integral das crianças em idade anterior aos 07 anos, que, por sua vez, necessitam de permanente acompanhamento.
 Na prática, essa forma de acompanhamento constante, de aproveitamento de bons
momentos das crianças para facilitar e motivar a aprendizagem de novos conteúdos e utilização adequada de materiais parece não estar sendo objeto de preocupação por parte dos professores em exercício. É oportuno no momento atual direcionar os olhos para o processo de formação dos profissionais que atuam na Educação Infantil, atentando para a formação deficiente pela qual possam estar passando, que não lhes dá oportunidade de desenvolver os conceitos básicos e nem subsídios fundamentadores do seu próprio fazer, assim como não os fortalece no crédito do potencial de desenvolvimento, de realização da criança e no conhecimento deste processo.
   Descortinar, portanto, a formação e o trabalho docente realizados atualmente na Educação Infantil colocam-se como ponto de partida para que se possa conhecer e transformar a realidade desse nível de ensino em suas principais necessidades, tomando-os como fontes geradoras de dados e conhecimentos para futuros avanços.
  A formação da professora e do professor de Educação Infantil precisa se reverter para o que chamamos de profissionalização, no sentido pleno da palavra. Profissionalizar não é somente qualificar o professor, mas também possibilitar quele seja inserido numa condição de desenvolvimento, em que essa formação continuada reverta, a longo prazo, numa carreira, juntamente com melhores
condições salariais e de trabalho. Busca-se com o apoio da fundamentação teórica, fornecer indicadores da relevância do tema com o objetivo de favorecer a compreensão de como se articulam a
formação e atuação do (a) professor (a) de Educação Infantil.

1. ANÁLISE TEÓRICA DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM 
EDUCAÇÃO INFANTIL

  A formação dos profissionais de Educação Infantil, nos últimos tempos, tem recebido impetrados esforços, tanto por parte dos formuladores de políticas, quanto por parte dos meios acadêmicos e da sociedade civil organizada, objetivando alcançar reconhecimento quanto à peculiaridade desse nível escolar, dos conhecimentos necessários para sua atuação na área e dos prazos para que se efetue a formação preconizada na Lei. Um dos primeiros estudiosos a reconhecer a importância e o valor da infância para o desenvolvimento humano foi John Amos Cimênio, que fez uma analogia entre a formação da criança e o cultivo das plantas, revelada em sua obra Didática Magna: Comênio considera a criança um ser semelhante a uma árvore que para crescer e dar bons frutos necessita de cuidados logo cedo. Por isso, a formação humana deveria ser iniciada na infância. Comênio desenvolveu uma nova concepção de criança, em uma época onde a educação era baseada em castigos e voltada para a elite. (COMÊNIO, 1985, P. 127). O desenvolvimento e a difusão de idéias pedagógicas para a educação de crianças pequenas tiveram a contribuição de diversos estudiosos, dentre eles: Froebel (1782/1852), Maria Montessori (1870/1952), Célestin Freinet (1896/1966) e Constance Kamii (EUA).
   A natureza do trabalho do professor é cheia de complexidade e singularidade. As relações existentes no conjunto de sujeitos envolvidos no processo educativo são regidas por um contrato social ou, segundo Perrenoud (1997), um contrato didático, que confere ao professor uma autoridade advinda de sua posição e conhecimentos a serem comunicados. Porém, como hoje se sabe os conhecimentos não podem ser construídos por mera transmissão de conteúdos, mas por um conjunto de atitudes éticas que incluem o diálogo. Nesse contexto é que se problematiza a questão da formação em relação à atuação pedagógica.
  
1.1 A EDUCAÇÃO INFANTIL SEGUNDO FROEBEL


  No que se refere à Educação Infantil, Frederico Froebel pode ser considerado o Pedagogo da Infância, por ter priorizado em seus estudos o processo de desvendar a criança, conhecendo seus interesses, condições e necessidades, para assim adequar a educação, garantindo o desenvolvimento deste ser. Os estudos de Froebel são baseados numa teoria genética, de evolução orgânica.
Influenciado por Comênio, estabeleceu o paralelo entre a planta e o ser humano,que guarda dentro de si a semente que necessita de condições externas para aflorar e exteriorizar suas potencialidades.
 Para Froebel a educação é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve a sua condição humana autoconsciente. É o ajustamento progressivo e contínuo do indivíduo em uma vida mais ampla que é sua e na qual deve encontrar-se, descobrir o seu próprio eu, a sua individualidade.A criança froebeliana é um ser repleto de potencialidades, sendo a infância a fase essencial da vida do homem e da humanidade, período em que a criança deve ser cuidada, para que possa se fortalecer, desenvolvendo seu potencial e sua essência.Seguindo a teoria froebeliana, a formação da professora de Educação Infantil deve prepará-la para ser o alicerce, a base do trabalho escolar, tendo como habilidadefundamental a observação, para assim poder acompanhar e analisar a adequação
das atividades propostas, com o intuito de desenvolver o potencial infantil.
   Segundo Froebel, a professora deveria torna-se a guardadora e a protetora da infância, com características claras: ser sábia, ter habilidades, ampla cultura, caráter moral e, principalmente, ser mulher. Esse conceito de vocação foi construído historicamente e aceito pelo professorado, de maneira a se perpetuar a ideia de que o magistério é uma carreira adequada à mulher, por suas características de docilidade e submissão. Inúmeros fatores influenciam a opção pela profissão e, consequentemente, pela formação inicial que, no caso da Educação Infantil, traz muito da mitificação do magistério como profissão feminina vocacional. Embora se constate que na realidade, a presença da mulher no magistério se deve muito mais às construções culturais e históricas ligadas à ideia de vocação, não se pode afirmar, incondicionalmente, que a tradição da mulher no magistério seja aceita sem críticas.
   Entre os principais fatores que explicam o alto índice feminino do corpo docente da Educação Infantil estão: questões de ordem financeira, somada às afetivas e pessoais, como a insegurança de iniciar uma carreira competitiva que exija conhecimentos mais aprofundados nas áreas das ciências exatas, que por sua vez, reflete a pouca/nenhuma socialização das mulheres para exercerem essas atividades. Socialização que valoriza certas áreas do conhecimento como masculinas e outras como femininas e que, na maioria das vezes, inicia-se na família, perpetuando-se na escola, para depois se estender à oferta e às oportunidades de trabalho.
  
1.2 A EDUCAÇÃO INFANTIL NA VISÃO DE MONTESSORI

   Para a doutora Maria Montessori, que desenvolveu a Pedagogia Científica, a educação tem por objetivo o desenvolvimento das energias da criança, forças estas inatas e interiores no ser, que se desenvolveriam mesmo sem o auxílio alheioA proposta pedagógica montessoriana baseia-se na educação sensorial e muscular,
orientadas por duas finalidades fundamentais a serem buscadas - a educação dos movimentos e da personalidade infantil. Ser professora montessoriana é antes de tudo, ter confiança no potencial infantil, acreditando que em ambiente preparado e adequado, com instrumentos e materiais pedagógicos específicos à etapa de desenvolvimento em que a criança se encontra, seu potencial aflorará e o indivíduo caminhará no sentido de buscar sempre o aperfeiçoamento do seu ser.
 De acordo com os princípios montessorianos, a dedicação da professora deverá estar totalmente voltada aos seus alunos, num trabalho calmo e paciente de acompanhamento e orientação dentro do ritmo individual de cada um, devendo ter acima de tudo uma formação moral.

1.3 O PROCESSO EDUCATIVO INFANTIL NA CONCEPÇÃO DE FREINET


  Já o processo educativo baseado na concepção de Célestin Freinet, preza o equilíbrio entre o indivíduo e o seu meio social; a vida liberada das amarras de autoridade e coerção às quais adultos e crianças, muitas vezes, estão submetidos; a exteriorização do ser, realizando o seu papel individual, social e político. De acordo com essa concepção, as paredes das salas de aula não devem ser vistas
como limites do processo, não deve haver separação entre a vida escolar e social. 
  A finalidade da proposta construída por Freinet é a busca da felicidade e realização positiva do ser, através do equilíbrio estabelecido entre o indivíduo e a sua vida, sua cultura e seu meio social. Para Freinet a educação deve ter como base quatro eixos: a cooperação para construir conhecimento; a comunicação para transmitir conhecimento; a documentação para registrar fatos históricos e a afetividade entre as pessoas.Em relação à formação do professor, Freinet considera o verdadeiro educador aquele que ultrapassa seu papel de vigilante autoritário, permitindo que o aluno
construa seu conhecimento em um “trabalho – jogo”, que deve estar coerente com suas necessidades sociais, valorizando-o enquanto pequeno trabalhador. (CABRAL,1978, p. 79).

1.4 O PROCESSO EDUCATIVO INFANTIL NA CONCEPÇÃO DE KAMII


  Constance Kamii, que trabalhou com Piaget na Escola de Genebra, traz uma perspectiva educacional de auxiliar o indivíduo num processo contínuo de conhecimento, a crescer escolhendo seus caminhos e procurando o melhor para a coletividade, num ambiente de cooperação e respeito mútuo. A educação, de acordo com a teoria de Kamii, deve processar-se em condições que possibilitem a criança o agir com liberdade e espontaneidade, numa interação dialética com seu meio ambiente, propiciadora de condições para o crescimento e desenvolvimento máximo das potencialidades do ser, onde a criança é concebida como sujeito construtor.
   Segundo a teoria de Kamii, a realização do trabalho docente exige do profissional o profundo conhecimento da criança, de como se processa o seu desenvolvimento, a construção do conhecimento, para poder facilitar, encorajar a criança a pensar ativa e autonomamente em todos os tipos de situações.
 A professora deve ser uma vigilante sempre atenta para poder explorar e tirar o máximo de proveito de todas as situações de sala de aula, incentivando as crianças a pensar, a relacionar idéias às coisas que já aprenderam. Tornar-se assim, a facilitadora da aprendizagem do aluno, através da problematização, dos desafios
que cria, dos questionamentos que oferece à criança.

 A calma, o respeito ao ritmo do aluno, ao seu tempo são características de uma professora que pretende promover a segurança, o domínio, à autonomia, o desenvolvimento integral do seu aluno. As propostas pedagógicas apresentadas possuem semelhanças e divergências. As finalidades da educação propostas por Froebel, Montessori, Freinet e Kamii priorizam o indivíduo, a sua liberdade para pensar, agir, estabelecer e responsabilizar-se por suas escolhas de modo a que satisfaça às suas necessidades pessoais, suas curiosidades infantis na ânsia de conhecer o mundo e a si mesmo.

CONCLUSÃO


  A formação e o trabalho docente praticados nas escolas, em especial nas públicas, é norteado por teorias como as que foram descritas anteriormente. O estudo dessas teorias revela a necessidade imprescindível de análise dos procedimentos de organização e planejamento do trabalho docente, para que se possa propor às crianças situações e ambientes adequados à sua realização e propícios ao seu desenvolvimento.
  Desta forma, outros caminhos de uma formação de professores reflexivos apontam para o desejo de superar a relação linear, mecânica, entre o conhecimento científico-técnico e a prática na sala de aula. Segundo essa concepção, o êxito profissional depende da capacidade de manejar a complexidade da ação educativa e resolver problema, por meio de uma interação prática.
 A ideia que adquiriu espaço nos dias atuais e que vem se solidificando é a de formação continuada em serviço, que deve assegurar "a atualização, o aprofundamento dos conhecimentos profissionais e a capacidade de reflexão sobre o trabalho educativo" (Referenciais para a Formação de Professores, MEC/Brasília, 1999) e, mais que tudo, é um processo que deverá ser realizado na escola com tempos reservados para estudos em grupo.
  Atualmente, o Ministério da Educação tem valorizado a formação continuada calcada na problematização e na prática reflexiva em grupos de estudos, por meio de diversos programas e do Programa Parâmetros em Ação. Se na escolha da profissão e nos cursos de formação estão presentes fatores como o da vocação e outras influências, é na formação continuada que se pode analisar como essa modalidade está mais próxima da tematização da prática cotidiana do que a formação inicial no sentido de modificar a atuação docente, para que o professor torne-se um aprendiz, fortalecendo seu próprio potencial e auxiliando a criança no desenvolvimento de suas potencialidades.


REFERÊNCIAS:

ARANHA, M. L. A. História da educação. 2 ed. rev. e atual. São Paulo: Moderna,1996.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília: SEF/MEC, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Referenciais para formação de professores. Brasília: SEF/MEC, 1999.

CABRAL, M.T.C. De Rousseau a Freinet ou da teoria à prática; uma nova Pedagogia. São Paulo, HEMUS, 1978.

COMÊNIO, J.A. Didática magna - tratado de ensinar tudo a todos. Lisboa: Fundação Caloute Gulbenkian, 1985. 

KAMII, C.; D, R e. A teoria de Piaget e a educação pré-escolar. Lisboa: Sociocultur, 1985.

MONTESSORI, M. Pedagogia científica. São Paulo: Flamboyant, 1965.

PERRENOUD, P. Práticas pedagógicas, profissão docentee formação. Lisboa:D. Quixote, 1997.


PRESTES, M. L. de M. A pesquisa e a construção do conhecimento científico. São Paulo: Respel, 2002.






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